EFETUAÇÃO NO RIO
Encontro de empreendimentos brasileiros de favelas, Amazônia e centros de pesquisa
Por Patty Cabero
9 de Janeiro de 2023
Novo!! Para ver uma seleção de vídeos da conferência no Rio, clique nos links abaixo!!
EFFECTUATION IN RIO | 1º Dia - Mesa de Abertura | Day 1 - Openning session
EFFECTUATION IN RIO - 1º Dia - Painel Empreendedores | Day 1 - Panel Entrepreneurs - 1º Regina Café
EFFECTUATION IN RIO - 1º Dia - Painel Empreendedores | Day 1 - Panel Entrepreneurs - 2º Laura Cotta
EFFECTUATION IN RIO - 1º Dia - Painel Empreendedores | Day 1 - Panel Entrepreneurs - 3º Michel Silva
EFFECTUATION IN RIO - 2º Dia - Painel Empreendedores | Day 2 - Panel Entrepreneurs - 1º William Reis
EFFECTUATION IN RIO - 2º Dia - Painel Empreendedores | Day 2 - Panel Entrepreneurs -2º Marcele Porto
EFFECTUATION IN RIO - 2º Dia -Painel Empreendedores | Day 2 -Panel Entrepreneurs -3º Cosme Felippsen
EFFECTUATION IN RIO -2º Dia -Painel Empreendedores | Day 2 -Panel Entrepreneurs -3ºLivia de Sá Baião
EFFECTUATION IN RIO | 2º Dia - Mesa de Abertura | Day 2 - Openning session
EFFECTUATION IN RIO _ 1º Dia - Prof. Saras Sarasvathy _ Day 1 - Short talk by Prof. Saras Sarasvathy
EFFECTUATION IN RIO - 1º Dia Painel Empreendedores _ Day 1 Panel Entrepreneurs Prof.Saras Sarasvathy
EFFECTUATION IN RIO - 1º Dia Painel Empreendedores _ Day 1 Panel Entrepreneurs Prof.Saras Sarasvathy
Em dezembro passado pude conhecer vários empreendimentos, alguns que nasceram na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, outros que nasceram nos laboratórios de pesquisa de universidades de diversas cidades, e também alguns da Amazônia brasileira. Quando cheguei para participar do evento Efetuação no Rio de Janeiro (Effectuation in Rio), não esperava encontrar esta variedade de empreendimentos. E, todos contam com o apoio de organizações nacionais ou regionais, que oferecem financiamento, assessoria e networking
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Os organizadores do Efetuação en Río convocaram um total de 25 empreendimentos para se reunir com o professor Saras Sarasvathy, conhecer Efetuação e poder trocar experiências. Cada dia foi dividido em rodadas de exposição onde os empreendedores contaram suas trajetórias e, ao final, conversaram com a Profa. Sarasvathy. Essa troca foi rica porque, por um lado, a partir das experiências contadas, foi possível demonstrar os princípios da efetuação, então não era mais uma master class, mas uma aula vivencial. Ao mesmo tempo, a professora Saras destacou diversos aspectos e os empreendedores tiveram a oportunidade de ampliar e esclarecer o que foi dito. Como cada rodada teve diferentes tipos de empreendimentos, foi possível comparar as experiências e os percursos. Esta troca foi enriquecida com perguntas e opiniões do público.
Das exposições que mais me chamaram a atenção, destaco as seguintes:
- Carteiro Amigo: o empreendimento nasceu em 2000 da necessidade de oferecer um serviço confiável de entrega de cartas na Favela da Rocinha. O casal Elaine Silva e Carlos Pedro observou que o serviço postal não era eficiente dentro da favela onde moram, em que muitos moradores vieram de outras cidades e mantinham contato por carta com seus familiares. A dificuldade de entrega postal residia no fato de que nem todas as ruas e becos das favelas são acessíveis por meio de transporte e/ou são claramente identificados. É por isso que o Carteiro Amigo oferece seus serviços por meio de vizinhos que conhecem não apenas a abrangência geográfica da favela, mas também as regras e tradições que regem a favela. A pandemia foi um limão para a limonada o que eles fizeram, porque de repente o fluxo postal parou. Como já conheciam a logística dentro da favela, em pouco tempo o Carteiro Amigo se tornou um meio de entrega das compras feitas online pelos moradores da Rocinha. Sendo, então, um modelo de negócio inovador para o contexto das favelas, o Carteiro Amigo recebeu financiamento para adotar a tecnologia apropriada e levar suaproposta de valor para outras favelas e comunidades do Rio.
- imunotera: O que você faria se precisasse de US$ 1 milhão para validar sua proposta de valor? Essa é a dimensão do desafio que a Imunotera está enfrentando, pois este empreendimento está desenvolvendo um tratamento para prevenir o câncer. Sua proposta é desenvolver vacinas terapêuticas que permitam ao corpo humano desenvolver defesas imunológicas. A empreitada é liderada por três pesquisadoras da Universidade Pública de São Paulo, e também empreendedoras - Luana Raposo, Bruna Maldonado e Mariana de Oliveira - que iniciaram sua jornada de combate ao câncer durante seus estudos. Apesar de terem publicações internacionais bem conhecidas e resultados laboratoriais convincentes, trazer sua solução para o mercado requer testes clínicos internacionais especializados e caros. E apesar do grande desafio, não seguir em frente não era uma perda aceitável para Luana, Bruna e Mariana, que encararam, então, ser pilotos do próprio avião. Para demonstrar que sua proposta era viável para além do laboratório, em 2010, elas decidiram desenvolver uma solução para combater o papiloma humano (HPV), uma doença incurável que pode levar ao câncer uterino. Esta solução é baseada nos princípios das vacinas terapêuticas estudadas em laboratório, e em estudos clínicos; em 2020 observou-se que esta solução reduziu o número de células infectadas com o HPV, o que demonstrou a viabilidade das vacinas. Com base nesses resultados, a Imunotera conseguiu obter financiamento para os ensaios clínicos necessários para a prevenção do câncer. Apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer, a experiência já acumulada permite às empreendedoras transmitir a certeza de que alcançarão seu objetivo e que, a partir disso, poderão oferecer alternativas inovadoras para a prevenção de diversos tipos de câncer.
- Saboaria Rondônia: Depois de sofrer com problemas de pele e sem dinheiro para se tratar, Mareilde Freire investigou como poderia produzir um creme que a ajudasse. Ela investiu os poucos recursos que tinha na compra de matérias-primas e, percebendo que poderia experimentar e produzir produtos de beleza, decidiu aprender mais. Mareilde mora na zona rural deRondônia, na Amazônia, e seu ambiente a inspirou a unir forças com outras mulheres e, assim, montou sua colcha de retalhos, isto é, sua rede de aliadas. Essas mulheres assumiram o compromisso com Mareilde de produzir produtos de beleza com insumos provenientes de plantas da Amazônia. Este foi o começo da Saboaria Rondônia, e o que em 2015 era apenas uma ideia, ao longo dos anos se tornou um projeto comunitário, que promove a preservação do meio ambiente, o empoderamento feminino e o desenvolvimento socioeconômico na Amazônia. Seus produtos incluem sabonetes de glicerina, xampus, cremes e óleos. Elas receberam apoio da FINEP para expandir suas operações e se aventuraram no mundo virtual com um site de comércio eletrônico.
- : Em 2019 Giseli Buffon e Antja Dullius concluíram o doutorado na Universidade do Vale do Taquari, no estado do Rio Grande do Sul. E elas se deparavam com o dilema: o que fazer no futuro? Não tendo a certeza de encontrar um emprego na área acadêmica, aventuraram-se a empreender em Biotecnologia. Sua proposta de valor consiste em aproveitar a biodiversidade de microalgas para substituir derivados de petróleo sintetizados convencionalmente e desenvolver insumos inovadores de química verde. Os seus conhecimentos em Biotecnologia, o seu percurso doutoral e os seus contatos foram o seu pássaro na mão para iniciar o seu negócio. Então Giseli e Antja buscaram uma especialização para trocar perspectivas sobre sua ideia com especialistas na Alemanha. O próximo passo foi criar um reator e, depois de obter o financiamento necessário, elas o construíram e conseguiram capturar sua proposta de valor. Hoje elas estão desenvolvendo um banco de microalgas para vários setores, incluindo cosmetologia, agricultura e alimentos. Giseli e Antja partiram com muita incerteza sobre o futuro e, em sua trajetória empreendedora, criaram um futuro em que podem fazer negócios com diversas multinacionais e criar um mundo mais sustentável.
- Amazônia Smart Food: Depois de trabalhar vários anos no setor privado, Priscila Almeida perdeu o emprego e engordou. O marido, que é chef de profissão, resolveu criar uma alimentação saudável para Priscila emagrecer. Nesse processo, ela percebeu que juntos poderiam criar uma proposta de alimentação saudável e, desde 2016, buscam alternativas para oferecer alimentos que não sejam apenas saudáveis, mas também deliciosos e fáceis de preparar. Nesse processo, eles experimentaram produtos da Amazônia, cujas propriedades permitiram desenvolver almôndegas, linguiças e hambúrgueres veganos, ricos em proteínas e isentos de glúten, colesterol e lactose. Durante a sua apresentação, os presentes puderam provar estes produtos que são realmente deliciosos. Para garantir que seus produtos sejam livres de transgênicos, a Amazônia Smart Food possui uma plataforma blockchain que permite a rastreabilidade de suas matérias-primas.
Durante as exposições da Efetuação no Rio, pude confirmar que os empreendedores são capaze
s de mudar sua realidade e moldar seu ambiente. No livro Shaping Entrepreneurship Research, Sarasvathy e seus co-editores reconhecem que os empreendedores são capazes de forjar novos mundos. Nas histórias que descrevi neste post, podemos observar isso. Independentemente do ponto de partida, do tipo de empreendimento ou do contexto de onde surgiram, os empreendedores do Carteiro Amigo, da Inmunotera, da Saboaria Rondônia, da Syntalgae e da Amazônia Smart Food estão forjando mundos e mudando seu ambiente.
Finalmente, esses empreendimentos também fornecem uma resposta à pergunta Empreendedores nascem ou são feitos? A maioria desses empreendedores não pretendia abrir um negócio, porém suas circunstâncias os motivaram a iniciar um empreendimento. Ao longo de suas experiências, aprendizados e desafios, eles se tornaram empreendedores. E na medida em que se transformaram, transformaram também suas realidades e seus mundos.
Em suma, o Efetuação no Rio foi uma experiência inspiradora e de muito aprendizado. espero que esse post possa lhes transmitir um pouco do que tive oportunidade de experienciar lã.